domingo, 28 de novembro de 2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Eu sou sua prostituta

Dias eletrizantes na fecked Ventolândia

Os últimos dias têm sido eletrizantes. Como não poderia deixar de ser, a crise econômica é o assunto da hora na Ventolândia. Está na boca do povo. Me sinto até mais em casa. Parece o Brasil dos bons tempos. Todos falando sobre economia. A maioria com a convicção e a paixão que só a ignorância permite.

Bom momento para a imprensa. Para o humor também. Um cartunista, não lembro de qual jornal, resumiu o pronunciamento do primeiro-ministro irlandês sobre o acordo com o Fundo Monetário Internacional com um trocadilho juntando a sigla do FMI em inglês com um singelo "tô fudido". Saiu assim: "IMF****d".

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Eu, eu mesmo e a onda

Abandonei o blog para me dedicar a outra atividade: o surfe. Durante esses quase dois meses, minhas habilidades na prancha evoluíram inacreditavelmente. A prova é que apareço na primeira página do Irish Times de ontem pegando uma onda de 15 metros de altura provocada pelo furacão Tomas a dois quilômetros da costa irlandesa. Pode conferir abaixo ou, se preferir, ver no site do jornal.


sábado, 18 de setembro de 2010

O português de Portugal, a sinceridade e o descobrimento

Ouvir o português de Portugal foi uma das melhores coisas da nossa viagem de férias no mês passado. Do Algarve a Lisboa e daí ao Porto, nos divertimos com a pronúncia rápida, vogais comidas como em Belém, Blém, o adeus em vez do tchau, a pergunta do freguês na mercearia, há pêssegos?, os ésses e os pronomes todos, as diferentes palavras e expressões, gira, casamento falhado, o tratamento formal, nunca antes fui tantas vezes chamado de senhor, o humor e a ranzinzice, dois lados da mesma alma. Também nos divertimos lendo a imprensa portuguesa. Os textos abaixo são do número 911 da revista semanal Visão. O primeiro texto é do colunista Ricardo Araújo Pereira (incluí apenas os parágrafos iniciais da coluna) e o segundo é do leitor Juventino M R Fonseca.

Talvez o leitor já tenha reparado num flagelo que assola a sociedade portuguesa. É o flagelo da sinceridade. Há um número alarmante de pessoas para quem a sinceridade é um atributo estimável. Tanto que, ao que tenho testemunhado com cada vez maior frequência, anunciam a despropósito e sem pudor a sua própria sinceridade, normalmente antes de uma observação desagradável. Funciona assim: "Eu sou sincero: essa camisa fica-lhe mal." Como é evidente, o proprietário da camisa fica duplamente amesquinhado: não só está mal vestido como se encontra junto de uma pessoa sincera. Os nossos defeitos parecem ainda piores quanto estamos na presença de alguém que é tão obviamente virtuoso. As pessoas com quem me dou sabem bem o que é carregar esse fardo.
É interessante reparar no modo como o autor deste tipo de frase é, em geral, atormentado pela sua própria nobreza de caráter. Outras pessoas teriam a desonestidade de elogiar aquela camisa, ou fariam um silêncio igualmente condenável. O sincero não pode, uma vez que é sincero. Não é desagradável, nem impertinente, nem descortês. É sincero. No fundo, o que está a dizer é: "Não há nada a fazer. Eu bem me esforço para não ser tão moralmente irrepreensível, mas não consigo. É a mais elevada dignidade que me obriga a dizer-te que tens maugosto." (...)


Acabo de ler na revista desta semana: "Como pôde um território ser 'descoberto' se já era habitado desde época imemoriais", e recordo-me que a pretexto dos 500 anos dessa "descoberta" vi nos telejornais manifestações no território brasileiro contra as comemorações e, particularmente, contra o termo "descoberta", defendendo o "achamento". Já na altura achei a constatação desprovida de sentido, pois o termo passou a ser utilizado precisamente com a chegada do Pedro Álvares Cabral a Terras de Vera Cruz, pois este significava "tirar a coberta de", ou seja, mostrar algo que estava escondido.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Notícia do Brasil no tablóide The Star

O título é mais ou menos assim: Filho de craque brasileiro é modelo transexual.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Emigração da Irlanda é a mais alta da União Europeia

Matéria no Irish Times de hoje (texto completo em inglês no site do jornal):
Há mais pessoas deixando a Irlanda que qualquer outro país da União Europeia, mostra uma nova pesquisa. Embora a Irlanda tenha a mais alta taxa de nascimento da UE e a mais baixa taxa de mortalidade, pessoas estão abandonando o país às pencas enquanto as oportunidades de trabalho diminuem.

Dados compilados pela Eurostat, o braço da comissão europeia responsável por estatísticas, mostram que a Irlanda é distintamente diferente de outros países em termos de crescimento populacional e emigração. Em conjunto, a população dos 27 países da União Europeia cresceu, estima-se, de 499,7 milhões em 2009 para 501,1 milhões no começo de 2010.

Um baby boom na Irlanda, o qual começou em 2008, levou a taxa de nascimento para níveis não vistos desde a década de 1890, mas a saída do país de 40.000 pessoas no ano passado aponta para o retorno da emigração em massa.

Segundo a Eurostat, a taxa de emigração da Irlanda era de nove pessoas por mil em 2009, o que é uma enorme mudança em relação ao apogeu do crescimento econômico da década de 2000, quando a taxa de imigração para a Irlanda era de 8,4 por mil, atrás apenas da Espanha. A taxa de emigração da Irlanda no ano passado foi quase duas vezes maior que a do país com a segunda maior taxa de emigração, a Lituânia, que perdeu 4,6 pessoas por mil.

O economista Thomas Conefrey, do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais, acredita que boa parte do fluxo de emigração é de longe reflexo da saída de não-irlandeses do país. Enquanto dados detalhados ainda não estão disponíveis, homens jovens irlandeses são apontados como o segundo maior grupo de emigrantes.

terça-feira, 13 de julho de 2010

O cão de olhos vermelhos no bairro das notícias policiais

O bairro em que moramos é citado em duas notícias do Evening Herald de hoje. Uma delas é uma nota sobre a condenação de um rapaz pego não muito longe daqui de casa com um carregamento de maconha. A outra – de maior destaque e seguindo a fórmula de botar a foto do sujeito e começar o texto com "Este é o fulano que..." – é sobre um morador da nossa rua que tentou extorquir 10.000 euros com ameaças de morte. A vítima vive em outra cidade.

Não é surpresa nosso bairro aparecer em notícias policiais. Mas também não é motivo de preocupação. Nos sentimos seguros onde moramos. Outro dia, no entanto, estava no intervalo da aula quando a Karlinha me ligou, por volta das 20h, assustada. Tem dois caras mal-encarados batendo na porta, ela disse. Abre e vê o que eles querem, eu disse. Não vou abrir, eles estão bebendo cerveja, ela disse. Tá bom, vou ligar para polícia e já te ligo de volta, eu disse.

Karlinha não estava mais assustada quando liguei de volta. Os malacos tinham ido embora. Mais tarde, ao chegar em casa, vi um cachorro de pelúcia, grande, com olhos vermelhos pintados a caneta, na porta do nosso apartamento. Caso resolvido.

Alguns dias antes havia ajudado um colega polonês, que tem um filho de um ano, a fazer a mudança. No dia seguinte ao susto da Karlinha, ele me confirmou que tinha ido à minha casa com um amigo para nos dar de presente o bicho de pelúcia que era do filho.

domingo, 4 de julho de 2010

DeLorean de Miranda não tem volta para o futuro

Tinha pensado em botar um dos artigos que li na imprensa irlandesa sobre a derrota da Seleção. Mas daí vi no Irish Times o texto que segue abaixo e mudei de ideia.
Um DeLorean cupê de 1981, vermelho, de propriedade de Miranda Guinness foi retirado de leilão ontem [sexta-feira] por não ter alcançado o preço mínimo em uma venda de carros clássicos no sul da Inglaterra. O modelo, cujo preço estipulado ficava entre 18,000 e 24,000 euros, esteve por longo tempo em exposição no Museu do Vapor em Straffan, no condado de Kildare [Irlanda], e no Museu Nacional do Transporte, em Howth, Dublin.

Criado por John DeLorean, um ex-executivo da General Motors, o projeto do carro esportivo DeLorean foi estabelecido perto de Belfast no fim dos anos 70 com suporte financeiro do governo britânico. O carro atraiu atenção pelo chassi de aço inoxidável e as linhas estilosas, notavelmente as portas de asa.

O primeiro protótipo apareceu em março de 1976 e a produção começou oficialmente em 1981, com os primeiros carros saindo da linha de montagem em Dunmurry no dia 21 de janeiro. O projeto rapidamente apresentou problemas financeiros e de controle de qualidade que nunca foram corrigidos. Em 1982, uma gravação foi divulgada na qual DeLorean aparece aceitando dinheiro para traficar cocaína. Ele foi mais tarde absolvido das acusações contra ele que pediam encarceramento.

Aproximadamente 9.000 modelos DMC-12 foram feitos antes da fabricação ser encerrada no fim de 1982. Estima-se que ainda existam, hoje, cerca de 6.500 carros da marca. O DeLorean tornou-se famoso novamente no meio dos anos 80 após seu papel de destaque na trilogia De Volta para o Futuro, de Robert Zemeckis, embora a fábrica já havia sido fechada quando o primeiro filme foi feito.

O carro em questão, uma versão do DMC-12 com direção no lado esquerdo, tem apenas 19.000 milhas rodadas e está bem preservado, de acordo com a casa de leilão Bonhams. Miranda Guinness, ex-mulher do conde de Iveagh, e companheira do falecido doutor Tony Ryan, foi a única dona do carro. No começo deste ano, um raro exemplar do DMC-12 alcançou 95.000 libras num leilão no Reino Unido e um protótipo original de 1976 do DMC-12 foi vendido por 110.000 dólares num leilão nos Estados Unidos.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

É o mar que carrega com a gente

Tem dia que a noite é f@%#. Saudade está batendo forte. Hoje falei com mãe e irmã pelo skype, mandei fotos recentes da Clara para parentes e, agora, pela primeira vez em quase três anos, escuto Caymmi e seu violão, disco maravilhoso que tocava direto lá em casa. Em busca de músicas para a Clara ouvir, acabei de baixá-lo através do mais que excelente Um que tenha.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Aquecimento global: balela ou fato?

Passei a ficar em dúvida se o aquecimento global era balela ou fato depois de ler textos sobre o assunto no blog do Tambosi, que está na lista de blogs aí do lado. O Tambosi é cético a respeito. Os textos que li no blog dele são contundentemente contrários à ideia segundo a qual o planeta está aquecendo. Dizem, por exemplo, que não há consenso sobre o tema no mundo científico e que aqueles que pregam o aquecimento global distorcem dados, são alarmistas e têm, muitas vezes, interesses financeiros.

Mas eis que, agora há pouco, vi na RTE (canal de televisão da Irlanda) um programa que mexeu novamente com minha opinião sobre o tema. Burning Question, como é intitulado, toma partido a favor dos defensores do aquecimento global e contra-ataca os argumentos dos descrentes.

Assim como os textos do blog do Tambosi, o programa é contundente. Afirma, por exemplo, que o aquecimento global é, sim, causado pelo homem, e que há, sim, consenso científico sobre o tema. Também diz que a ideia de conspiração é patrocinada por empresas de óleo e combustíveis.

Dois notórios golpes na credibilidade dos defensores do aquecimento global – os casos da Universidade de East Anglia e do gelo do Himalaia no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – são rebatidos no programa.

No caso da East Anglia, houve grande repercussão negativa quando o vazamento de e-mails foi noticiado. Por outro lado, foi quase nulo o destaque para as investigações sobre o ocorrido, que foram encerradas em março deste ano e limparam a barra dos cientistas.

No caso do relatório, que trouxe a informação equivocada que o gelo do Himalaia iria derreter, o diretor do IPCC, em entrevista ao programa, reconheceu o erro e lamentou que o relatório seja lembrado por isso e não pelas informações incontestáveis das outras 2.999 páginas.

Outro entrevistado, um professor de jornalismo da universidade de Cardiff que escreveu um livro sobre como a imprensa trata o aquecimento global, disse algo interessante. Segundo ele, pela regra da objetividade jornalística, o aquecimento global deveria ser apresentado como fato por ser cientificamente comprovado. No entanto, ao aplicar a regra do equilíbrio, de mostrar o outro lado, a imprensa favorece o debate e, consequentemente, a incerteza.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Kaká, chama a mãe que o pai tá doido

Sem churrascos com amigos e sem Galvão para mandar calar a boca, acompanho a Copa sóbrio como um terno preto, embora regularmente só de cueca por causa do verãozão irlandês de 20ºC. Não sei se é o calor inesperado ou a sobriedade inédita, mas com certeza estou enlouquecendo.

Fiquei certo da loucura ao ler, ontem, jornalistas e comentaristas brasileiros pela primeira vez após uma semana sem internet. Sintoma inequívoco. Ao contrário dos especialistas, achei sofrível o desempenho do Kaká contra a Costa do Marfim.

Não me lembro de tê-lo visto errar tanto em jogo da Seleção. Erros que os passes para os gols não anulam mas ressaltam. Aposto (um milhão e duzentos e três euros) que a avaliação pós-jogo que o Kaká fez dele mesmo (sim, eu tô maluco) foi pior que a da imprensa em geral. E piro mais: ele não teve culpa alguma, absolutamente nenhuma, na expulsão.

E surtando, baba correndo: a Seleção ganha a Copa fácil, fácil sem o Kaká. Mas piração mesmo seria ver o time com o Kaká dos velhos tempos. Please, God! E lá vamos nós, doidaços, de cueca, cantando para a Clara: "Copacopaai! Copacopaai! É a Copa co' paai!"

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Modelo brasileira é estrela de campanha polêmica

A história já está praticamente morta na mídia irlandesa, mas, como acabei de topar com o recorte do jornal que tinha guardado, aqui vai: a campanha publicitária do salgadinho Hunky Dorys – outdoors sensuais, de mulheres estonteantes, com uniformes esportivos curtíssimos, e frases de duplo sentido... Nada de novo debaixo do sol, diria a publicidade brasileira –, então, essa campanha do Hunky Dorys foi retirada das ruas depois de receber 300 reclamações e ameaça de ação legal no órgão do governo irlandês que regulamenta publicidade. Foi acusada de sexista e, até, de incentivar violência sexual contra mulheres.

Uma das fotos (dá para ver neste blog) mostra uma modelo agachada segurando uma bola de rúgbi. Perto do generoso decote, a frase "Are you staring at my crisps?", que, sei lá, poderia equivaler a algo do tipo "Você está encarando meus baconzitos?".

A modelo em questão é a brasileira Isabela Soncini. No recorte que citei antes, do popularesco The Star, há foto dela de biquini e a declaração que "Não tenho namorado no momento e adoraria visitar a Irlanda. Quero dizer obrigada a todos os meu fãs".

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Duetos e fanfarras na nova rádio que toca na van

Depois de dois anos escutando na van do supermercado a rádio indie Phantom, troquei recentemente de estação e agora faço as entregas pelo bairro ao som da RTE Lyric FM. Uma das vantagens é que a direção ficou menos agressiva. Outra é que não escuto a mesma música ser tocada três vezes num espaço de algumas horas. Mas o mais legal tem sido descobrir músicas como estas duas: o Dueto dos Gatos, de Rossini, e a Fanfare for the Common Man, de Aaron Copland.


segunda-feira, 10 de maio de 2010

Uma preocupação a menos

A RTE promete transmitir todos os jogos da Copa do Mundo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Chet, me dá uma heroína que eu quero dormir

Fosse razoável deveria estar na cama neste momento em vez de reaparecer aqui. Acontece que duas horas atrás parei para dar uma olhadinha na interneti e, apesar do cansaço, o sono sumiu. No domingo foi coisa parecida. Lá pelas quatro da matina vi que o documentário Let's Get Lost, bastante citado na biografia do Chet Baker escrita por James Gavin, estava passando na tevê. Botei para gravar e acompanhei o filme quase todo sem áudio para não acordar meus anjos. Quase no fim liguei o som. Besteira porque daí pus no início e vi tudo de novo. Fui domir perto das sete da manhã.

Bom, tinha lido a biografia, então achei interessante o filme do fotógrafo Bruce Weber. Só não entendi, provavelmente nem era para entender mesmo, o papel da bonitona que aparece a toda hora. Além dela, há entrevistas com Chet, três ex-mulheres suas, filhos, amigos, músicos, imagens de arquivos e sequências doidas gravadas num conversível, numa praia, num bar e durante o Festival de Cannes. O filme e a biografia mostram que Chet é o típico caso ame a obra não o autor.

Trompetista de talento natural, viciado em heroína por 30 anos, grande nome do jazz suave da Costa Oeste (muito bom para embalar neném), banido da Alemanha, Itália e Inglaterra, cantor de voz pequena que influenciou inclusive a música brasileira, estrela de rosto angelical nos anos 50, transfigurado a partir dos 70 por causa do vício (tomou pico até embaixo da unha) e por causa de uma surra até hoje envolta em mistério que lhe custou os dentes e quase a carreira, Chet desapontou a mãe, ignorou os filhos e magoou profundamente as ex-mulheres que concordaram em falar no filme – egoísta, manipulador e mentiroso, elas disseram.

OK, Chet, então qual foi o dia mais feliz da sua vida? "Provavelmente foi quando comprei meu Alfa Romeo SS."

sexta-feira, 12 de março de 2010

News from Brazil: Cartoonist and son are shot dead

Glauco Villas Boas, a well-known cartoonist in Brazil, was shot dead today in his house, in Osasco, a city near São Paulo. His 25-year-old son, Raoni, was also shot dead. According to police, three men broke in the family's house during the first hours of the morning. Glauco's wife and two of his daughters have witnessed the murders. Glauco, who created memorable characters as Geraldão, Doy Jorge and Dona Marta, was also a religious leader from a doctrine based on the psychedelic drink called ayahuasca.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Passaporte irlandês, o melhor amigo dos espiões

Em 2006 passei férias na Colômbia e lá alguém me disse para ter cuidado que o passaporte brasileiro era muito cobiçado por criminosos interessados em forjar identidade, pois nosotros brasileños não temos um traço físico característico. Me lembrei disso no fim de semana quando li matéria do Irish Times sobre a popularidade do passaporte irlandês entre espiões e demais interessados em viajar sob disfarce ou, digamos, proteção.
O uso de passaportes irlandeses na execução de um membro do Hamas em Dubai pode ter sido surpresa, mas o documento sempre foi popular, escreve Tom Clonan

Como documento de viagem – falsificado ou não – passaportes irlandeses são altamente apreciados por grande e variado número de grupos e indivíduos. Acredita-se que o coronel Olivier North tenha viajado ao Irã com um passaporte irlandês forjado em 1986, durante o caso Irã-Contras.

É de amplo conhecimento dos círculos de inteligência e segurança que passaportes irlandeses falsificados têm sido usados tanto por agentes da CIA quanto do Mossad em viagens pelo Oriente Médio e a África. Aproveitando-se da reputação da Irlanda de país neutro com pouca ou nenhuma bagagem colonialista, agências internacionais de segurança, acredita-se, têm em inúmeras ocasiões empregado passaportes irlandeses falsificados como disfarce para espiões e agentes em trânsito por territórios hostis a países poderosos como Estados Unidos e Reino Unido.

Sabe-se também que organizações terroristas internacionais já usaram passaportes irlandeses falsificados no passado. Acredita-se que membros do Provisional IRA usaram passaportes forjados durante os anos 70 e 80 em viagens à Líbia e a outros lugares do Oriente Médio para comprar armas e explosivos durante os Troubles. Mais recentemente, como ministro da Justiça, Michael McDowell alegou que membros da Colombia Three viajaram para a América do Sul com passaportes falsificados.

Passaportes irlandeses genuínos e legitimamente usados são motivo de inveja entre jornalistas internacionais fazendo coberturas em ambientes hostis tais como Iraque e Afeganistão. Os correspondentes internacionais Patrick Cockburn, do londrino Independent, Maggie O'Kane, do The Guardian, e Orla Guerin, da BBC, fazem coberturas em áreas de guerra viajando com seus passaportes irlandeses.

Cockburn cita que em pelo menos uma ocasião no Iraque o passaporte irlandês provavelmente salvou a sua vida. Ele apresentou o documento ao ser tirado do seu carro por insurgentes armados na periferia de Fallujah em 2004 e foi liberado sem lesões. (...)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O português brasileiro visto de fora

Um livrinho com dicas sobre o português do Brasil foi oferecido como brinde na edição de quinta-feira passada do jornal inglês The Guardian. Fez parte de uma série com outras seis línguas: japonês, árabe, mandarim, hindu, russo e espanhol da América Latina, todas consideradas importantes para o século 21. Além de dicas e frases feitas, cada livrinho contou com um texto introdutório, que no caso do português brasileiro foi escrito por Alex Bellos, ex-correspondente do jornal no país e autor do livro Futebol: The Brazilian Way of Life. Achei o texto do Alex interessante e fiz uma traduçãozinha:
Os Estados Unidos são frequentemente acusados de deterioração da língua inglesa. Uma acusação de tal tipo nunca é feita ao seu vizinho latino-americano Brasil, que tem apenas melhorado a língua materna, o português.

Primeiro, a pronúncia. O Brasil deu ao mundo a bossa nova, um melodioso, sensual estilo de música que poderia apenas ter sido inventado numa língua tão melodiosa e sensual quanto. As consoantes são todas suavizadas, soam como ondas quebrando na praia; a entonação é sincopada e sedutora. Já foi dito que o português brasileiro soa como "Sean Connery falando italiano"; isso é verdade, mas apenas quando ele está de sunga.

A cultura brasileira lapidou o português à sua própria imagem, introduzindo informalidade, calor e inclusão que, pelo que eu saiba, não existem em nenhuma outra língua. Todos são conhecidos pelo primeiro nome, até o presidente. Na verdade, ele é conhecido pelo apelido, Lula. Assim como muitos outros brasileiros, tais como Pelé, Robinho e Kaká. Falar português faz você se sentir instantaneamente entre amigos.

O Brasil é um dos maiores cadinhos de cultura do mundo, consistindo principalmente de europeus, africanos e indígenas, além de razoável quantidade de japoneses. O português brasileiro não é caprichoso sobre incluir palavras de outras línguas em seu próprio vocabulário. É uma língua internacional, sem preconceitos. Ainda assim, nenhuma tentativa é feita para se pronunciar corretamente palavras estrangeiras; as regras locais, como a de suavizar as consonantes, sempre prevalecem. Assim, "rush hour" é hora do rush – se pronuncia "hush [silêncio]", o que, penso eu, é particularmente apropriado – e a palavra para billboard é "outdoor", pronunciada ouch-door.

No começo, o português parece difícil, principalmente por causa da pronúncia e entonação inesperadas. Ainda assim, há regras bastante claras que uma vez dominadas tornam a língua não mais difícil de aprender que o espanhol e o francês. Verdade que a gramática e a ortografia são mais complicadas que as francesas ou espanholas (há colunas semanais sobre gramática nos jornais, e novas regras ortográficas foram anunciadas no ano passado), mas a maioria das pessoas comete erros de linguagem e ninguém dá bola. Do que mais gostei ao aprender o português brasileiro é que a língua falada é mais importante que a escrita, em parte porque um grande número de pessoas são efetivamente analfabetas e, sendo assim, prevalece a comunicação oral e a tradição de contar histórias. (Se algo é escrito não significa que seja mais verdadeiro ou confiável, como nós estamos inclinados a pensar na Europa.) O que é verdade e o que não é verdade é bastante fluido.

Mas meu favorito aspecto do português brasileiro, e um importante passo para se tornar fluente, foi compreender o fundamental papel dos sufixos -inho e -ão, que significam 'pequeno' e 'grande'. Nunca deixe de usar esses sufixos. O diminutivo -inho pode indicar amor, intimidade, beleza, irrelevância e afeto, enquanto o aumentativo -ão pode indicar medo, feiúra ou espanto. Um brasileiro de verdade iria achar difícil dizer uma sentença sem incluir um -inho ou um -ão, ou seja, as conversas tendem a ser cheias de paixão e exagero, humor e cor. O país é uma terra de extremos em muitas coisas (em termos geográficos e de riqueza, por exemplo) – e a língua encoraja os habitantes a falar em extremos.

Mais do que requerer extenso vocabulário, o português brasileiro é ricamente idiomático e também versátil graças à criatividade. Acima de tudo, essa é uma língua cuja maior contribuição para o vernáculo internacional é o grito de "goooooooooooool".

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Juiz durão aluga imóvel para loja de drogas legalizadas

Um juiz famoso por não mostrar clemência em casos relacionados com drogas disse desconhecer que alugou um imóvel para uma headshop, como é chamada a loja que vende drogas legalizadas.

(...) Ontem [quarta-feira, 3], o juiz [John Coughlan] fez um "acordo" com o dono da loja Happy Daze [atordoamento feliz, na tradução direta] em Naas, Kildare, e o negócio vai mudar de endereço.

(...) O juiz disse que acreditava que o imóvel, onde antes funcionava seu escritório, era um centro de medicina alternativa. Happy Daze, localizada em frente à corte de Justiça de Naas, vende cigarros de ervas e diversas parafernálias e outras substâncias que imitam o efeito de drogas ilegais.
(...) O juiz contou a um jornal local que havia pedido informações sobre loja à polícia, que lhe respondeu que o negócio era perfeitamente legal.
[Há uma polêmica sobre as headshops no momento. A ministra da Saúde Mary Harney quer mudar a legislação para que uma série de substâncias à venda nas headshops sejam banidas a partir de junho. Medidas similares foram introduzidas no Reino Unido.]
(...) Lojas como a Happy Daze tem sido alvo de reclamações, mas elas estão funcionando dentro da lei, disse um representante da polícia.

(...) No condado de Clare, o HSE [o serviço de saúde irlandês] chamou diretores de escolas para um reunião especial na próxima terça-feira em resposta à crescente preocupação sobre o número de headshops. A reunião foi convocada depois que um psiquiatra local, o doutor Moosajee Bhamjee, ter dito que haveria um aumento de casos de suicídio e assassinato entre jovens se o governo não agir agora e fechar as headshops.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Acordou, olhou pro lado e viu namorada transando com estranho

"Não há palavras para descrever o choque", disse o irlandês que foi acordado pelo movimento da namorada e um estranho fazendo sexo ao lado dele na cama. O incidente ocorreu em 2008, num hotel, depois de uma festa de casamento. O estranho foi acusado de estupro e o julgamento começou na semana passada em Dublin.

No julgamento, o que acordou para o pesadelo assumiu que reagiu com violência ao choque "mais inacreditável" que já teve na vida. "Fiz o melhor que pude para infligir nele o máximo de dano." Ele disse também que a namorada gritou histericamente contra o estranho. No entanto, ele acabou aceitando a sugestão da defesa de que o primeiro soco possa ter sido dado "uma fração de segundo" antes de ela empurrar o invasor para fora da cama.

A matéria do Irish Times se encerra com um "o julgamento continua". (Aliás, matéria baseada no que foi ouvido e visto durante o julgamento é regra no noticiário policial daqui. No Brasil a gente sabe que não é assim. Por que, hein? Será por causa do jornalismo brasileiro, da justiça brasileira ou de ambos?)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Da importância de conhecer os vizinhos

Raramente saí das redondezas em janeiro. Quase não acompanhei o noticiário nacional. Vai então um assunto local, praticamente uma fofoca. Desde o Natal, quatro assassinatos foram cometidos em Dublin a mando de bandidos do bairro vizinho ao nosso. A polícia suspeita que uma única pessoa tenha cometido os crimes. Na segunda-feira, uma blitz na principal avenida do nosso bairro teve o reforço de um policial fortemente armado, o que não é normal. Mais tarde, o motorista da noite me contou que o autor das quatro execuções é um cara aqui do nosso bairro que faz parte da gangue do bairro vizinho. "Maluco, doido completo." É, aos poucos a gente vai sabendo quem é quem na vizinhança.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Irlandesa compra seu 23º Ford zero

Vinte e três carros zero. Todos da marca Ford e todos comprados na mesma revendedora. O primeiro em 1929 e o mais recente, um Focus, agora em 2010. Que paixão, que fidelidade, hein dona Eileen Lydon? A velhinha – 98 anos – garantiu que lembra até das placas de todos os 23 Fords. "Mas tenho que sentar para escrever os números." A história tá no Independent.ie.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Em busca das fotos perdidas

Depois de dois anos usando o celular mais reles do mercado, me dei de presente, com o cartão da Karlinha, um aparelho melhorzinho. A principal vantagem dele é que tem câmera. Durante o trabalho, passo a maior parte do tempo na rua. Muitas vezes aconteceu de eu topar com coisas que achei valessem fotos. Coisas normais, uma rua, uma pessoa, uma árvore, um carro. E coisas mais inusitadas, um cachorro andando de elevador, um motoqueiro com máscara anti-gás, uma noiva numa carruagem de vidro. Espero, agora, conseguir bater algumas dessas fotos que passaram pela minha cabeça. Hoje, primeiro dia com o brinquedo novo, bati 26 fotos. Eis algumas:







segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ministro das Finanças confirma que tem câncer

O ministro das Finanças Brian Lenihan disse nesta segunda-feira que se sente bem e não pretende se afastar do cargo ou reduzir a jornada de trabalho durante seu tratamento de câncer. O estado de saúde de Lenihan tem sido alvo de intensas especulações desde o dia 26 de dezembro quando o diagnóstico de câncer foi revelado pela mídia irlandesa.

Hoje, em seu primeiro pronunciamento depois da revelação, o ministro deu detalhes sobre a doença. Segundo ele, testes realizados pouco antes do Natal mostraram um bloqueio na entrada do pâncreas e nesse bloqueio foi encontrado tecido canceroso. Lenihan afirmou que o tratamento será iniciado ainda nesta semana.

No início de dezembro, com a aprovação do orçamento de 2010, um dos mais duros da história da Irlanda, Lenihan recebeu boa repercussão da mídia. Comentaristas políticos e econômicos o consideraram nome forte para o cargo de primeiro-ministro caso as medidas draconianas que elaborou dêem certo e ajudem o país a sair da crise.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Post estranho para começar o ano

Não trabalho desde quinta-feira, dia 24. Foi assim também no ano passado. O supermercado tem pouco movimento entre Natal e Revéillon. Lá fora as condições usuais prevaleceram durante quase toda a semana: vento idiota, chuva chata, frio desgraçado – o velhíssimo pacote que fez os antigos romanos chamarem a Irlanda de Hibérnia, a terra do inverno, a prova definitiva que o aquecimento global é balela.

Faz dois dias que o tempo mudou, parou a chuva, diminuiu o vento, aumentou o frio. Ontem, ou foi na madrugada de hoje?, nevou forte, o que não é comum em Dublin. Só nos demos conta da neve na hora de ir para cama, por volta das 2h, enquanto eu cumpria o ritual (mania, TOC) de verificar se as janelas e portas estavam fechadas.

Os estudantes do apartamento de cima estavam na rua batendo fotos e atirando bolas de neve quando saíamos para fazer o mesmo. Ao contrário do vento, da chuva e do frio, a neve para nós, e parece que para os nossos vizinhos também, ainda merece adjetivos tais como divertida, surpreendente, fotogênica. Na outra vez que nevou forte em Dublin, em fevereiro último, um polonês colega de trabalho me disse algo como "porcaria de tempo, hein?". Não duvido que ele tenha motivo para detestar neve.

Hum, estou começando o quarto parágrafo e nem sinal de notícias da Irlanda. A verdade é que olhei o Irish Times agora há pouco, mas nada me chamou a atenção. Daí peguei o primeiro parágrafo – que eu tinha escrito para um post não-publicado a respeito dos filmes assistidos nos últimos dias (Avatar e Hunger, que ficariam na parte de baixo da lista; Cidadão Kane, que pela quarta vez não consigo terminar de ver; O segredo de Berlim, The Good German, bom; e Papai Noel às Avessas, Bad Santa, o melhor de todos) – e toquei até aqui.