segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Passaporte irlandês, o melhor amigo dos espiões

Em 2006 passei férias na Colômbia e lá alguém me disse para ter cuidado que o passaporte brasileiro era muito cobiçado por criminosos interessados em forjar identidade, pois nosotros brasileños não temos um traço físico característico. Me lembrei disso no fim de semana quando li matéria do Irish Times sobre a popularidade do passaporte irlandês entre espiões e demais interessados em viajar sob disfarce ou, digamos, proteção.
O uso de passaportes irlandeses na execução de um membro do Hamas em Dubai pode ter sido surpresa, mas o documento sempre foi popular, escreve Tom Clonan

Como documento de viagem – falsificado ou não – passaportes irlandeses são altamente apreciados por grande e variado número de grupos e indivíduos. Acredita-se que o coronel Olivier North tenha viajado ao Irã com um passaporte irlandês forjado em 1986, durante o caso Irã-Contras.

É de amplo conhecimento dos círculos de inteligência e segurança que passaportes irlandeses falsificados têm sido usados tanto por agentes da CIA quanto do Mossad em viagens pelo Oriente Médio e a África. Aproveitando-se da reputação da Irlanda de país neutro com pouca ou nenhuma bagagem colonialista, agências internacionais de segurança, acredita-se, têm em inúmeras ocasiões empregado passaportes irlandeses falsificados como disfarce para espiões e agentes em trânsito por territórios hostis a países poderosos como Estados Unidos e Reino Unido.

Sabe-se também que organizações terroristas internacionais já usaram passaportes irlandeses falsificados no passado. Acredita-se que membros do Provisional IRA usaram passaportes forjados durante os anos 70 e 80 em viagens à Líbia e a outros lugares do Oriente Médio para comprar armas e explosivos durante os Troubles. Mais recentemente, como ministro da Justiça, Michael McDowell alegou que membros da Colombia Three viajaram para a América do Sul com passaportes falsificados.

Passaportes irlandeses genuínos e legitimamente usados são motivo de inveja entre jornalistas internacionais fazendo coberturas em ambientes hostis tais como Iraque e Afeganistão. Os correspondentes internacionais Patrick Cockburn, do londrino Independent, Maggie O'Kane, do The Guardian, e Orla Guerin, da BBC, fazem coberturas em áreas de guerra viajando com seus passaportes irlandeses.

Cockburn cita que em pelo menos uma ocasião no Iraque o passaporte irlandês provavelmente salvou a sua vida. Ele apresentou o documento ao ser tirado do seu carro por insurgentes armados na periferia de Fallujah em 2004 e foi liberado sem lesões. (...)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O português brasileiro visto de fora

Um livrinho com dicas sobre o português do Brasil foi oferecido como brinde na edição de quinta-feira passada do jornal inglês The Guardian. Fez parte de uma série com outras seis línguas: japonês, árabe, mandarim, hindu, russo e espanhol da América Latina, todas consideradas importantes para o século 21. Além de dicas e frases feitas, cada livrinho contou com um texto introdutório, que no caso do português brasileiro foi escrito por Alex Bellos, ex-correspondente do jornal no país e autor do livro Futebol: The Brazilian Way of Life. Achei o texto do Alex interessante e fiz uma traduçãozinha:
Os Estados Unidos são frequentemente acusados de deterioração da língua inglesa. Uma acusação de tal tipo nunca é feita ao seu vizinho latino-americano Brasil, que tem apenas melhorado a língua materna, o português.

Primeiro, a pronúncia. O Brasil deu ao mundo a bossa nova, um melodioso, sensual estilo de música que poderia apenas ter sido inventado numa língua tão melodiosa e sensual quanto. As consoantes são todas suavizadas, soam como ondas quebrando na praia; a entonação é sincopada e sedutora. Já foi dito que o português brasileiro soa como "Sean Connery falando italiano"; isso é verdade, mas apenas quando ele está de sunga.

A cultura brasileira lapidou o português à sua própria imagem, introduzindo informalidade, calor e inclusão que, pelo que eu saiba, não existem em nenhuma outra língua. Todos são conhecidos pelo primeiro nome, até o presidente. Na verdade, ele é conhecido pelo apelido, Lula. Assim como muitos outros brasileiros, tais como Pelé, Robinho e Kaká. Falar português faz você se sentir instantaneamente entre amigos.

O Brasil é um dos maiores cadinhos de cultura do mundo, consistindo principalmente de europeus, africanos e indígenas, além de razoável quantidade de japoneses. O português brasileiro não é caprichoso sobre incluir palavras de outras línguas em seu próprio vocabulário. É uma língua internacional, sem preconceitos. Ainda assim, nenhuma tentativa é feita para se pronunciar corretamente palavras estrangeiras; as regras locais, como a de suavizar as consonantes, sempre prevalecem. Assim, "rush hour" é hora do rush – se pronuncia "hush [silêncio]", o que, penso eu, é particularmente apropriado – e a palavra para billboard é "outdoor", pronunciada ouch-door.

No começo, o português parece difícil, principalmente por causa da pronúncia e entonação inesperadas. Ainda assim, há regras bastante claras que uma vez dominadas tornam a língua não mais difícil de aprender que o espanhol e o francês. Verdade que a gramática e a ortografia são mais complicadas que as francesas ou espanholas (há colunas semanais sobre gramática nos jornais, e novas regras ortográficas foram anunciadas no ano passado), mas a maioria das pessoas comete erros de linguagem e ninguém dá bola. Do que mais gostei ao aprender o português brasileiro é que a língua falada é mais importante que a escrita, em parte porque um grande número de pessoas são efetivamente analfabetas e, sendo assim, prevalece a comunicação oral e a tradição de contar histórias. (Se algo é escrito não significa que seja mais verdadeiro ou confiável, como nós estamos inclinados a pensar na Europa.) O que é verdade e o que não é verdade é bastante fluido.

Mas meu favorito aspecto do português brasileiro, e um importante passo para se tornar fluente, foi compreender o fundamental papel dos sufixos -inho e -ão, que significam 'pequeno' e 'grande'. Nunca deixe de usar esses sufixos. O diminutivo -inho pode indicar amor, intimidade, beleza, irrelevância e afeto, enquanto o aumentativo -ão pode indicar medo, feiúra ou espanto. Um brasileiro de verdade iria achar difícil dizer uma sentença sem incluir um -inho ou um -ão, ou seja, as conversas tendem a ser cheias de paixão e exagero, humor e cor. O país é uma terra de extremos em muitas coisas (em termos geográficos e de riqueza, por exemplo) – e a língua encoraja os habitantes a falar em extremos.

Mais do que requerer extenso vocabulário, o português brasileiro é ricamente idiomático e também versátil graças à criatividade. Acima de tudo, essa é uma língua cuja maior contribuição para o vernáculo internacional é o grito de "goooooooooooool".

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Juiz durão aluga imóvel para loja de drogas legalizadas

Um juiz famoso por não mostrar clemência em casos relacionados com drogas disse desconhecer que alugou um imóvel para uma headshop, como é chamada a loja que vende drogas legalizadas.

(...) Ontem [quarta-feira, 3], o juiz [John Coughlan] fez um "acordo" com o dono da loja Happy Daze [atordoamento feliz, na tradução direta] em Naas, Kildare, e o negócio vai mudar de endereço.

(...) O juiz disse que acreditava que o imóvel, onde antes funcionava seu escritório, era um centro de medicina alternativa. Happy Daze, localizada em frente à corte de Justiça de Naas, vende cigarros de ervas e diversas parafernálias e outras substâncias que imitam o efeito de drogas ilegais.
(...) O juiz contou a um jornal local que havia pedido informações sobre loja à polícia, que lhe respondeu que o negócio era perfeitamente legal.
[Há uma polêmica sobre as headshops no momento. A ministra da Saúde Mary Harney quer mudar a legislação para que uma série de substâncias à venda nas headshops sejam banidas a partir de junho. Medidas similares foram introduzidas no Reino Unido.]
(...) Lojas como a Happy Daze tem sido alvo de reclamações, mas elas estão funcionando dentro da lei, disse um representante da polícia.

(...) No condado de Clare, o HSE [o serviço de saúde irlandês] chamou diretores de escolas para um reunião especial na próxima terça-feira em resposta à crescente preocupação sobre o número de headshops. A reunião foi convocada depois que um psiquiatra local, o doutor Moosajee Bhamjee, ter dito que haveria um aumento de casos de suicídio e assassinato entre jovens se o governo não agir agora e fechar as headshops.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Acordou, olhou pro lado e viu namorada transando com estranho

"Não há palavras para descrever o choque", disse o irlandês que foi acordado pelo movimento da namorada e um estranho fazendo sexo ao lado dele na cama. O incidente ocorreu em 2008, num hotel, depois de uma festa de casamento. O estranho foi acusado de estupro e o julgamento começou na semana passada em Dublin.

No julgamento, o que acordou para o pesadelo assumiu que reagiu com violência ao choque "mais inacreditável" que já teve na vida. "Fiz o melhor que pude para infligir nele o máximo de dano." Ele disse também que a namorada gritou histericamente contra o estranho. No entanto, ele acabou aceitando a sugestão da defesa de que o primeiro soco possa ter sido dado "uma fração de segundo" antes de ela empurrar o invasor para fora da cama.

A matéria do Irish Times se encerra com um "o julgamento continua". (Aliás, matéria baseada no que foi ouvido e visto durante o julgamento é regra no noticiário policial daqui. No Brasil a gente sabe que não é assim. Por que, hein? Será por causa do jornalismo brasileiro, da justiça brasileira ou de ambos?)